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quarta-feira, 17 de junho de 2020

CURTINHAS DA QUARENTENA- Décima Sexta


Não me venham com o jornal. São muitos os mortos, muito mais os desesperados, incontáveis os cretinos. 

Não, não posso com o jornal. Já mal suporto as dores do mundo sem ele.  Hospitais lotados; covas e mais covas; meninos baleados; meninos caindo do alto; todos os tipos de desgoverno... as notícias me dão náuseas. 

Além do mais, chove. Chove demais e são milhares os desabrigados não noticiados. Já me bastam as infiltrações e o mofo daqui de casa.

Desculpem, não tenho como. Uma noite inteira de pesadelos me aguardaria, e, maldormida, o meu dia estaria perdido. Por isso eu não posso. Sinto muito. Dou parte de fraca, o Jornal não é para mim. 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

CURTINHAS DA QUARENTENA - Décima Terceira

Essa é boa: dia dos namorados remoto! Casais apaixonados separados por um vírus mortal, cada um em sua casa, namorando pela internet. 


Vamos admitir que há tempos se faz de um tudo pelas câmeras: nudes, Tinder, Sexlog, os infinitos sites de "conteúdo adulto" entre outras invenções engenhosas do mercado sexual. Sendo assim, o coronavírus não pode ser responsabilizado pelo amplo espectro das safadezas virtuais. Mas dia dos namorados on line foi demais.


Olhando pelo lado bom, sempre o há, você não terá que encontrar a melhor desculpa por não ter procurado o melhor presente. Também será possível economizar dinheiro e evitar grandes filas em cinemas e restaurantes. 

Quanto ao lado ruim, bem, é inevitável achar um pouco de graça.  Beijinhos molhados na tela do celular. Abraços virtuais. Taças de vinho brindando a distância. Vamos ver o mesmo filme ao mesmo tempo na Netflix?

CURTINHAS DA QUARENTENA- Décima Quarta

Nessa semana atravessamos o pico da epidemia. Daqui a uns 15 dias a situação deve melhorar. Marcamos aquele compromisso para o mês que vem, é garantido que vai dar certo! 

As expectativas da quarentena. Um estado permanente de espera, como um bebê encruado, que não nascerá ao cabo de nove meses. Poço sem fundo. Viagem longa cujo destino não chega. 

De quinzena em quinzena, estamos todos fartos de esperar. Mas a virulência não dá mostras de arrefecimento,  a despeito do nosso enfado. Mortos e mais mortos. Notícias ruins uma atrás da outra. Miséria,  racismo, roubalheira. Nada que o coronavírus tenha inventado, embora no momento pareça bem mais cruel e revoltante.

Ter de esperar está nos matando. Não esperar certamente nos matará muito mais.

O nobre professor

  Ana Lia Almeida   Espero o elevador me perguntando o que acabou de acontecer.             A porta abre, eu vacilo antes de entrar. P...