Elas me caem de surpresa, não sei de onde. Quando menos espero, pulam em forma de contos, pequenas crônicas ou controversas opiniões. Às vezes nem posso com elas, mas não querem nem saber: as palavras saltam das minhas mãos. Se não agradam, a culpa é toda delas.
domingo, 27 de setembro de 2020
A melhor hora da praia
domingo, 20 de setembro de 2020
CURTINHA DA QUARENTENA n.24 - Temporada de Chuvas Isoladas
Sabe quando uma sucessão de acontecimentos ruins vão nos chovendo um atrás do outro, mal a pessoa se seca e lá vem outro banho de água fria de novo? Parece que faz sol em toda a cidade, mas uma nuvem carregada não sai de cima de nós.
Pois está aberta a Temporada de Chuvas Isoladas por aqui. De Isolada, mesmo, só tem o nome, porque traz consigo a maior aglomeração. Não tem álcool em gel que dê jeito: de repente a gente se vê em velório, em delegacia e cheio de gente dentro de casa.
Primeiro veio a perda de um grande amigo. Indizíveis a tristeza e a revolta, dessas marcas que a vida vai cuidando com o tempo, bem devagarinho. Às favas com o isolamento social: foi muito abraço e pouco distância.
Poucos dias depois, a casa pegou fogo. Uma faísca elétrica ardeu o quarto da menina e em pouco tempo havia uns quinze vizinhos sem máscara arriscando a vida por nós. Afora a fumaça, ficamos todos bem. Menos as roupinhas da dona do quarto, que queimaram todas. Em compensação, ela renovou o quarda-roupa inteiro, o que, por sua vez, nos levou ao shopping depois de 6 meses.
No mesmo dia, podem acreditar, a minha mãe foi roubada e fizeram uma festa com os cartões de crédito. Pior que o prejuízo, só mesmo o 0800 da Caixa Econômica Federal. E lá fomos nós à Central de Polícia, onde ganhamos o chuvisco-bônus da viagem perdida, voltando sem B.O. nenhum porque, você sabe, era fim de semana e ali somente flagrante com violência.
O desisolamento ainda continuará com o retorno à delegacia, a ida ao banco e a reforma do quarto incendiado. Mas esperamos de coração que a Temporada de Chuvas Isoladas tenha se encerrado.
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
CURTINHA DA QUARENTENA N. 23 - Já chega
Vocês aí, seus Normais: ninguém aguenta mais esse mundo de vocês. Está simplesmente insuportável. De Covid ou de tristeza as pessoas estão indo embora daqui.
Vocês, aliás, já morreram e não sabem. São todos feitos de morte: carros importados, condomínios de luxo onde ninguém mais pode entrar, restaurantes cujos pratos custam um salário inteiro. Sem contar seus golpes, mais velhos que a fome, reeditados hoje no modelo remoto. Que se exploda esse mundo de vocês!
Já é Setembro, amarelo. Temos sol, praia, feriado, flores, passarinhos e mesmo assim não estamos suportando a sujeira e o sofrimento por todos os lados.
Nós estamos fartos, eu, meus amigos e a senhora que passa de porta em porta vendendo as empadinhas. Decidimos acabar com essa podridão e nada nos fará desistir, porque esse mundo normal de vocês já não presta faz é tempo.
sábado, 5 de setembro de 2020
CURTINHAS DA QUARENTENA Nº 22 - Dias Iguais
O fenômeno dos Dias Iguais, embora anterior à pandemia, parece ter se intensificado ao longo do ano de 2020. Trata-se de dormir e acordar preso aos mesmos acontecimentos, que se repetem quase sem variações perceptíveis. Duvidamos do calendário, pasmos, incrédulos de ter vivenciado dois dias diferentes. Quando damos por nós, o mês acabou sem explicações, parecendo impossível que todo esse tempo de 31 dias distintos entre si tenha sem passado.
A cozinha é a principal responsável pela estranha sensação, pois entre o café da manhã, o almoço e a janta, pouca coisa acontece de novo sobre a terra dentro de uma casa. Vejamos o caso do cuscuz: misturar um pouco d´água à massa amarela com uma pitada de sal, aguardar o descanso e deixar cozinhar por uns quinze minutos. Todo dia é o mesmo preparo, o que pode ser, logo de manhã cedo, fonte de confusão com o dia anterior.
Os jornais, com suas notícias de sempre, também em muito contribuem para a perturbação dos Dias Iguais. Variam muito pouco as péssimas notícias de um dia para o outro, embora de semana em semana tenhamos quase sempre um novo escândalo e uma nova média móvel no número de mortes, de modo que podemos passar a semana inteira praticamente presos em um dia só, considerando apenas a repetição do noticiário.
Não fosse um passarinho ou outro que aparece na janela, ora um bem-te-vi, ora um beija-flor nos lembrando que a vida segue teimosa, difícil seria acreditar que o tempo está passando de verdade.
O nobre professor
Ana Lia Almeida Espero o elevador me perguntando o que acabou de acontecer. A porta abre, eu vacilo antes de entrar. P...
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