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domingo, 1 de novembro de 2020

CURTINHA DA QUARENTENA Nº 29 - Mas a pandemia já não acabou?

Maldita hora que eu inventei de passar mal! Nunca mais eu durmo, depois do que vi e ouvi por aqui nesse hospital. Pessoas se internando aos montes, vidas se acabando de novo, trabalhadores exaustos e fartos de correr riscos. Mistura no fluxo de pacientes com a dita cuja e pessoas como eu, dando sopa com a minha pouca saúde no hospital. 

Só lembrei daquela moça na padaria, chacotando a minha distância dela na fila do pão: "Tudo isso é medo de covid, é?" Era. E não era pra menos. Os corajosos da vida normal, não posso com eles. Eu que não vou à praia, ao shopping, nem à mesa do bar. Mas precisei ir ao veterinário, que quis me atender sem máscara. O senhor por favor não me leve à mal, mas não haveria uma máscara no estabelecimento para o senhor utilizar? É só por causa da pandemia, mesmo, vá me desculpando a intromissão. 

"Mas a pandemia já não acabou, não, senhora?", perguntou o encanador, noutra situação. Eu parada diante dele, chocada com a pergunta, sem saber como responder, antes de me faltar o ar de vez quando, na sequência, ele me disse animado: "É... o Brasil tá se ajeitando. O presidente está melhorando muito o Brasil aos pouquinhos"... Eu soube o que dizer à moça da padaria e ao veterinário, mas não soube o que dizer a Seu Cícero. Tem horas que eu não sei mais como fazer.  

Me disseram no hospital que estão abafando tudo por causa das eleições, esperando só a votação acabar pra soltar as notícias e quem sabe fechar tudo de novo. Para arrematar a conversa, Seu Cícero me indicou um candidato a vereador, um sujeito muito prestativo que sempre ajudava as pessoas da comunidade. "Eu vou dar uma olhada, viu, Seu Cícero, obrigada". Às vezes posso, às vezes não posso com o mundo. 

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