Lá em casa pegou todos os três. Não precisou de hospital, não, graças a Deus. Curou com chá de alho e limão, mesmo, porque os remédios, minha filha... Lá no postinho não tinha mais, aí eu nem procurei saber na farmácia. Remédio é pra quem pode, né? A gente fica no chá, mesmo. Parada eu fiquei só uma semana, depois a patroa me mandou logo botar a máscara e voltar pra faxina. Esse pessoal não sabe, né, pegar numa vassoura, lavar um banheiro, botar um feijão no fogo. Eles não ficam, não, sem gente em casa, até copo d´água querem na mão.
Com Manoel, foi mais grave. Passou quinze dias em casa, eu cuidando, e quase bateu no hospital. Começou um cansaço, uma chiadeira no peito, uma agonia! Dei chá de hortelã miúdo, foi acalmando, acalmando, e ficou bom. Mas a obra não pára, né?! Deu quinze dias, ele voltou para o trabalho, curado.
A menina Clarinha não teve nada, mas ficou positiva também. O trabalho foi ela querer ficar em casa, pra cima e pra baixo. "Assintomátchica", dizia que era, toda importante. Mas não pode não, disseram no postinho, passa a doença do mesmo jeito. Dava conselho, mas era de uma festa para outra. Só parou mais quando a vizinha morreu, quase da idade dela. Morre mesmo, viu! A bichinha passou cinco dias ardendo de febre, quando levaram para o hospital já era tarde.
Gripezinha nada, eu vi como foi aqui. Até hoje é um cansaço, não sabe, uma boca seca, eu ainda não me recuperei totalmente não. Faltou o repouso devido, a madame inventando isso e aquilo, que ia chegar visita.
Não entendo esse povo, tem tudo pra ficar quieto, isolado, e é andando em casa dos outros. Sei não, viu... uma coisa é a gente, que trabalha fora, mesmo, senão não come. Mas esse povo?! Tudo em romeófici, bem chique, como eles enchem a boca pra dizer, e em vez de ficar parado se dana para o meio do mundo, lotando praia, comprando em shopping. Eu mesma, nem que tivesse dinheiro. O tempo não está pra isso não, minha filha. E parece que as coisas vão piorar de novo, não é?